Carta ao amor

Prezado sentimento,
É com grande pesar que venho lhe dizer uma coisa que conclui faz um tempinho: você é um saco. Ah, tomou um susto né? Está acostumado a ser venerado nas poesias dos imortais e alvo de buscas incessantes capazes de durar o longo e passageiro instante de uma vida não é?! Mas comigo não violão. Não é assim que a banda toca por aqui não. Pessoas reais, que vivem no mundo real, com problemas reais, não podem se dar ao luxo de passar uma noite inteira esperando o tocar de um telefone. Não, não meu querido, o sorvete anda muito caro. Essa falsa esperança que você insiste em plantar nas pessoas não tem vez aqui não. Será que você ainda não se deu conta do tamanho do poder que possuis sobre nós? Achas o passar de uma noite em claro ou a dor do esquecimento "superáveis"? Preciso lembrar-lhe de Tróia?! Hein!? Você quase acabou com uma civilização inteira! Maldito sejas! Acho que você pensa que eu não tô te sacando. Mas hoje em dia, a gente aprende desde cedo meu caro, somos acostumados desde cedo a ver os pais/mães sairem pela porta e se tornarem uma remota lembrança de infância. Aí, chego ao ponto que queria focar: nós, pertencentes a geração do século XXI, estamos perdendo a fé em você. Finalmente caímos em si e deixamos de acreditar numa utopia incrustada em nossas mentes por séculos. É meu querido, acabou a disneylândia pra você. Deixe-nos com nossos afazeres, deixe-nos saborear uma era livre de vossa influência. E, se por acaso eu sentir que estás querendo pegar-me numa tarde alegre de verão ( época essa que eu sei que você fica mais soltinho por aí ), fecho-me no meu quarto e penso nas tantas pessoas que sofrem por sua causa, assim, me sinto mais confortável para pegar o telefone e ligar para aquele casinho que de vez em quando prático um casual básico. Nada de sentimentos, nada de olhares carinhosos e mensagem de texto. Simplesmente pele na pele, aquela coisa do tesão mesmo. Sem mais, é com satisfação que digo que, se não o tenho, não mais me terás.

Atenciosamente.